Professora da Faculdade de Medicina da Ufba, Camila Vasconcelos acredita que pode haver a possibilidade dos consumidores processarem os fabricantes
Foto: Fernanda Vilas Boas/Metropress
Atores e atrizes que se passaram por médicos em vídeos para divulgar medicamentos e produtos que se dizem milagrosos usaram do poder e da credibilidade do discurso médico para fins comerciais. Essa análise foi feita pela advogada e professora da Faculdade de Medicina da Ufba (Universidade Federal da Bahia) Camila Vasconcelos durante o programa Metropole Mais. Para ela, deve ser analisada, inclusive, a possibilidade dos consumidores que adquiririam esses produtos processarem as indústrias responsáveis por eles e pela publicidade.
“Esses personagens não foram escolhidos à toa. A gente vai analisando que existe toda uma intencionalidade na narrativa posta. Eles pretendem de fato que a pessoa, a audiência, ela desenvolva um viés de credibilidade em relação a quem está falando, indubitável. Ou seja, eu não posso ter dúvidas de que as pessoas que estão falando sabem o que estão dizendo, muito menos ter dúvida a respeito da eficácia do conteúdo que se está a dizer”, explicou a professora.
O caso foi abordado na edição mais recente do Jornal Metropole, que mostrou atores se passando por médico, utilizando nomes e registros de profissionais reais, para induzir a compra de medicamentos que muitas vezes sequer têm aprovação da Anvisa. Os vídeos eram feitos para parecer entrevistas reais com os falsos médicos e profissionais da saúde, que era apresentados com um currículo detalhado e contavam suas supostas experiências com o produto.
“É importante a gente perceber todo cunho comercial forte e todas as consequências. Se são medicamentos que estão disponíveis para a compra de maneira facilitada, as consequências da aquisição e todos os danos que foram causados nas pessoas que adquiriram confiando naquela propaganda tem, sim, um viés muito forte, inclusive, no âmbito cívio”, pontuou.
Segundo a professora, caberia uma análise de quanto os pacientes que adquiriram esses produtos teriam legitimidade para processar as indústrias, “quem de fato está ludibriando, que fez a intencionalidade da roteirização, quem é que está se valendo de toda essa estrutura”.
“Por mais que a gente trabalhe do ponto de vista do Direito do Consumidor, os pacientes são especiais. Não é como ir comprar um computador. A saúde é um direito constitucional que acaba sendo utilizado de maneira não tão especial quanto é. Então, por mais que a gente esteja falando de uma deturpação de um direito constitucional”, finalizou.
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